sexta-feira, abril 23, 2010

Do(r) Amor

É dor, amor
Sem cor nem flor de cheiro
Que consome e num escolhe nome
Devasta os homi por inteiro

É erva-daninha crescendo, amor
Rasteira...
É seta certeira
No chão
do coração que fermenta

É semente que bota pé, inté
Nos Sertão que arde...

É fogueira, amor,
Queimando forte em Noite Alta...

É de encher o Z'óio d'Água
Dessa alma agreste
Que vagueia solta, enviesada
Nos travéis deste Globo Campestre

domingo, abril 18, 2010

Onirismo - Parte III (O acordar...)

Lamento em mantras
Chiados de sussurros...
O aceno coberto em teias,
teias de bichos-da-seda
O adeus com dedos finos,
mãos pequenas de chuvas quentes
e efêmeras...
Vapor rasteiro em tons de grená,
como fiapos de ti
roçando meus pés
cravados com ferro em sangue
no musgo do chão,
dessa terra amarga e acolhedora.
Saí da casca fosca de machê
na qual nutria-me de teus liquens...
Humus fresco escorrendo
entre minhas pernas disformes,
nodosas,
c0mo grandes flamboyants...
Saí da casca, e acenei, acenei decididamente,
sofregando um querer eterno,
um adeus secular que não era teu
Vi-me refletida no outro lado
daquela clareira insólita
Um aceno hesitante e cadavérico,
corroído pelas poeiras
da Humanidade atemporal...
Dei por mim que nunca foram sonhos,
onirismos pueris...
Abri os olhos,
e a luz atravessou-me,
fulgurando todo o meu ser,
e a ti
mostrando um infinito cinza e vermelho
através dos teus olhos,
cravei ainda mais fundo meus pés
no lodo recoberto de espinhos estigmais
Acenei furiosamente,
e o vapor adensava-se
por entre os dedos dos pés,
tornozelos nus manchados,
Acenei
e te vi assumindo em azul sutil,
transubstanciando para sempre;
Acenei até o meu braço não mais sentir,
além de mim,
da dor,
do adeus...
Deixei-me enovelar
por tais vapores doces...
a fumaça vermelha velou o meu braço;
insistente como enlevo de mãe...
Deixei-me estar sem ti,
e senti então,
algo que não fosse
uma dor infinda por não te ter,
mas um abandono aconchegado,
terno
e uma consciência leve,
de que jamais acharia o caminho
do que quer que seja a realidade...